terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

No Brasil, jantar à moda americana

 

 

Lojas brasileiras das redes Outback e Applebee's já estão entre as que mais vendem no mundo; modelo casual dining emplaca no País

 

"Nós, brasileiros, somos vistos como a joia da coroa pela matriz americana." É assim, na primeira pessoa do plural ("Minha alma é brasileira", diz), que o libanês Salim Maroun define a importância da operação brasileira da rede americana de restaurantes Outback, presidida por ele e presente no País desde 1997.

 

Sua impressão não é um exagero motivado pela paixão que nutre pelo País que adotou há 22 anos. Está baseada, na verdade, em números: no ano passado, a loja do bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, que recebe cerca de 40 mil clientes por mês, tirou a liderança, em quantidade de vendas, da unidade de Las Vegas, nos Estados Unidos. A loja do Shopping Eldorado, em São Paulo, aparece no segundo lugar nessa lista, onde as oito primeiras posições são brasileiras. A rede não divulga o faturamento local. No mundo, as vendas são de US$ 4 bilhões.

Assim como outras grandes redes americanas, o Outback funciona com um modelo conhecido como casual dining, criado na década de 80 com a proposta de ser um avanço com relação ao fast-food. Essas lojas se caracterizam pelos pratos generosos, feitos para serem apreciados em grupo, e pelo atendimento descontraído, geralmente a cargo de estudantes universitários. 

No Brasil, a primeira empresa a inaugurar o modelo foi a T.G.I. Friday"s, em 1995. A companhia chegou a ter sete unidades em cinco cidades brasileiras. Todas foram fechadas depois que a empresa - descontente com a falta de agressividade do sócio responsável pela operação até o ano passado - rompeu o contrato. Agora, diante do bom momento da economia no País, a rede procura uma nova parceria local para voltar ao Brasil no início de 2012 de forma mais ambiciosa.

"Estamos muito interessados no Brasil, um mercado líder nos países latino-americanos", diz Ian Saunders, presidente internacional da Friday"s em entrevista exclusiva ao Estado (leia mais ao lado). "O Brasil mudou muito nos últimos anos. A classe média está crescendo, e a geração que ia no fast-food agora quer dar um passo além. Podemos ser essa opção", acredita Amir Kremer, diretor de desenvolvimento para a América Latina.

A frustração da T.G.I. Friday"s no País tem como causa também o forte crescimento da concorrência nos últimos anos. O Outback, que aportou por aqui dois anos mais tarde, em 1997, possui 29 unidades no Brasil hoje - e planeja mais seis para este ano. A Applebee"s, maior empresa do setor nos EUA, onde tem mais de mil lojas, chegou aqui em 2004 e já abriu 11 restaurantes - segundo a empresa, as lojas brasileiras ocupam os lugares de número 1, 3, 4 e 5 em vendas fora do mercado americano.

Outra concorrente de peso, a Chilis, com 1500 unidades ao redor do mundo, fechou acordo com um parceiro local para abrir sua primeira loja em São Paulo, no fim deste ano. "A alimentação fora do lar movimentou no Brasil R$ 181 bilhões no ano passado, ou 13,6% mais do que em 2009. E o setor de casual dining, especificamente, cresce muito por causa da oferta gastronômica de primeira linha e do preço acessível. No ano passado, o crescimento foi de pelo menos 18%", estima Enzo Donna, diretor da ECD, consultoria especializada em food service.

Tropicalização. Mas, se o grande atrativo das redes americanas que vêm para o Brasil é oferecer uma comida de qualidade a um preço atrativo, seu sucesso por aqui quase sempre depende de um processo intenso de "tropicalização". Os cardápios, apesar de manterem nomes em inglês, como "ribs on the barbie" (costelas na churrasqueira) e "spicy shrimp" (camarão apimentado), sempre sofrem algum grau de adaptação. "No nosso cardápio, 80% dos produtos são padronizados e 20% são adequados ao mercado local", calcula o gerente geral para a América Latina da rede Applebee"s, Norman Baines. 

"Além de uma boa campanha de marketing e de oferecer um produto bom, as empresas que costumam se destacar são aquelas que adaptam o cardápio", afirma Tupanangyr Gomes, diretor-presidente para a América Latina da Martin-Brower, distribuidora logística especializada em food service. 

Gomes cita dois exemplos bem-sucedidos nesse sentido, vindos de redes de fast-food. Só no Brasil o Mc Donald"s oferece, por exemplo, uma porção de mini-cenouras como petisco; já os sanduíches da Subway vendidos aqui são menos apimentados do que os vendidos no país-sede da empresa.

Talvez o melhor exemplo de adaptação à cor local, no entanto, seja a que tem sido implementada pela Hooters, rede que está no Brasil desde 2002 e que passa por um processo de relançamento no País - a loja antiga, no bairro de Santo Amaro, foi substituída por um restaurante-modelo na Vila Olímpia, em São Paulo. Trinta por cento dos pratos foram adequados ao gosto local, o que significou a inclusão de novos cortes de carne e da tradicional caipirinha ao menu.

Até o maior símbolo da empresa, as belas garçonetes vestidas com roupas justas, foi afetado pela "tropicalização": aqui, o comprimento dos shorts que elas usam como uniforme foi aumentado em alguns centímetros para que ficassem mais discretos e combinassem melhor com a anatomia da mulher brasileira.

Fonte: Economia & Negácios


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