sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sua empresa planeja corretamente?

Saiba quais são as quatro dimensões envolvidas nesta atividade, frequentemente subestimada

Uma das funções da ciência de administração (ou método, se preferirem) que recebe uma enorme dose de desentendimento e até injustiça é o conceito de planejamento. O patinho feio desta história é criticado de forma até desele­gante: tempo perdido, teoria pura, coisa de con­sultor (ou professor), modismo, negócio para empresa grande. Os mais condescendentes afir­mam: não funciona. Também pudera. Pelo me­nos um ex-ministro do Planejamento, figura im­portante e respeitada, formador de opiniões, costumava dizer que no Brasil, planejamento não servia para nada pois, em nosso país, longo prazo equivaleria no máximo a três meses. Mes­mo hoje, este tipo de resistência costuma com frequência surgir na fase inicial de entrevistas durante meus trabalhos de Planejamento Estra­tégico nas organizações.

Em meu ponto de vista, esta visão deve ser se­riamente contestada. Com escusas pela auto-refe­rência e citação de currí­culo, mas depois de trinta e seis anos de consultoria em planejamento finan­ceiro e estratégico em recursos humanos e uni­versidade corporativa, concluí­ que planejamento é, no mí­nimo, fundamental. Em todas as pesquisas que realizei em empresas triunfadoras de grande, médio e, atenção, pequeno porte, surgiu que, de alguma forma, todas costumam usar (e abusar) do conceito de planejamento, visão estratégica, ante­cipação de futuro, desenho de cenários alternati­vos, plano tático, mentalidade estratégica ou qual­quer nome que se use, o importante é destacar que o processo de se antecipar o futuro aumenta em muito o ní­vel de conhecimento (eu diria, até sabe­doria) sobre o nosso negócio.

Vou mais além. Pessoalmente, acredito tanto nestas técnicas que nos últimos 25 anos tenho de­dicado um dia por ano à  avaliação da minha traje­tória pessoal e profissional. De maneira formal, re­tiro-me para um hotel de praia ou de serra e faço a mim mesmo as perguntas básicas que desenhei pa­ra a metodologia de estratégia de empresa. Confes­so que os avanços mais importantes que conquistei neste perí­odo surgiram desses momentos de refle­xão. Claro que, ao longo de cada ano, mantenho-­me permanentemente ligado às mudanças e ao a­companhamento dessa trajetória. Vale também lembrar que pesquisas realizadas com ex-alunos de Harvard demonstraram que os 3% habituados ain­da na fase acadêmica a escrever e perseguir suas metas alcançaram em 20 anos um patrimônio maior do que os 97% restantes que não davam a­tenção alguma ao ato de planejar.

Em realidade, o exercí­cio do planejamento o­pera em quatro dimensões. Em um primeiro pla­no, o cognitivo. Ao procurar conhecer o futuro e suas alternativas ocorre o aumento do conteúdo e da profundidade de suas decisões. Neste plano, planejar é melhorar o ní­vel de conhecimento do futuro de forma a nos permitir escolher hoje a ação mais adequada. No entanto, sua mágica não fica por aí­. Em um segundo plano, quando se tem uma clara noção da intenção estratégica deseja­da, nosso conjunto de energias e capacitações aumenta e se direciona naturalmente para o fo­co proposto. Um terceiro plano, que denomina­mos de ''sintonia'', surge a partir deste foco. Ne­le, as oportunidades e o conhecimento existentes no mundo são filtrados e canalizados para o nos­so projeto. Ao final, já no patamar da magia, po­demos recorrer a uma afirmação do nosso bri­lhante Paulo Coelho: ''Se uma pessoa tem um so­nho vigoroso e consistente, o universo conspira a favor'' Por isto, costumo recomendar aos céticos que, pelo menos, sonhem. Já será um grande passo na construção de um eficaz processo de planejamento.

Para concluir, uma motivação adicional. Prati­camente a totalidade dos empresários com grande sucesso em negócios de pequeno porte afirma que um dos fatos mais importantes de suas caminhadas é, exatamente, a capacidade de eles sonharem. E disso, completam, não abrem mão.
 
Marco Aurélio Ferreira Vianna

Fonte: Carlos Hilsdorf

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